quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Marcha, palhaços! (aula 19/01)

Chuva de novo. Aiaiai... Vamos lá.

A aula como sempre começou uns minutinhos atrasada, e com quatro dos seis alunos que ficaram de vir ontem (dois já tinham avisado da falta).

O grupo aos poucos assimila a rotina do aquecimento, que é quase sempre a mesma, e alguns já antecipam uns movimentos.

A aula de ontem teve basicamente duas partes, com dois conteúdos a serem trabalhados: uma parte de sensibilização e uma outra de trabalho de grupo.

A primeira utilizou exercícios que abordassem o olhar e o não-olhar, estimulando a observação do outro, o contato visual, o toque e a sensibilidade. Em um dos primeiros exercícios dessa fase, Renata e eu usamos uma atividade comum em iniciações de palhaço. Dessa vez, o grupo ficou sentado em círculo (eles cansam se ficam parados em pé por muito tempo) e uma pessoa ficou no centro. A pergunta feita aos que estão fora é “o que estou vendo nessa pessoa?” e eles devem descrever tudo que vêem e observam no corpo do colega. Não vale falar coisas da personalidade, ou quaisquer características que não possam ser notadas naquele momento (como se a pessoa é inteligente, se ela ronca, se ela sabe dançar). A pessoa que está no centro fica em pé e não pode fazer nenhum comentário às falas dos colegas. Todos passam pelo centro, inclusive as professoras. A proposta aqui é exercitar a observação do outro, tanto pela parte de quem vê como pela parte de quem é visto. O ambiente proposto é tranqüilo, não há espaços para julgamentos, sarcasmos ou constrangimentos.

Para apenas incentivar, começamos com observações mais simples, como “ele está de bermuda florida, ela está com as unhas pintadas” e aos poucos vamos estimulando maiores detalhes nos comentários: “as mãos dele são do mesmo tamanho? A barriga dela é grande ou pequena?”. Havia, na minha cabeça de capricorniana que gosta de criar hipótese pra tudo antes de experimentar, três possibilidades mais prováveis: 1 – eles seriam tímidos ou generalistas nos comentários (“ela é linda, ele é feio, eu não acho nada...”; 2 – eles levariam a atividade na brincadeira; 3 – levariam a sério demais, um ou outro se magoaria e... Pois então, nem precisava falar – mas eu vou – que mais uma vez essa turma me surpreendeu nas respostas aos exercícios. O grupo levou sério, se entregou e entendeu rapidinho como funcionava aquela atividade. Quem ficou de fora falou sem delongas ou grandes cuidados e, ao mesmo tempo, sem ironizar negativamente o corpo do colega. Quem estava no centro ouviu, esperou e se permitiu ser visto. Poucas foram as oportunidades em que precisamos intervir com um participante para que ele deixasse a atividade correr como deveria.

Infelizmente, dois alunos ficaram de fora desta atividade, pois chegaram na metade da mesma e, perdendo a explicação inicial e as primeiras rodadas, seria melhor que somente assistissem do que entrassem no meio daquele momento. Renata, responsável pela mediação de grupo, foi falar em particular com eles enquanto eu seguia com a atividade – uma ação que já havíamos combinado em reunião e acordado com os alunos nos primeiros dias de aula. Apesar de não entenderem de imediato nossa decisão de deixá-los assistindo até o próximo exercício, eles aceitaram bem a posição de observadores naquele momento, sem conflitos.

O trabalho do não-uso da visão e do toque foi feito com faixas que vendavam os alunos. Ora metade deles, quando enquanto um ficava com os olhos tapados um parceiro o guiava pelo espaço, ora o grupo todo, quando eles se reconheciam somente através do toque. Essas atividades correram bem. Ninguém se recusou a ficar de olhos vendados, tirou a faixa no meio do exercício ou “travou” ao ser guiado pela sua dupla.

A segunda parte foi um bloco proposto por Renata de exercícios que trabalham o grupo, andar em grupo. Essa foi uma dificuldade que notamos no primeiro dia de aula e que precisaria ser trabalhada ainda antes do dia do bufão (quarta que vem), quando a questão dos “bandos” será bastante trabalhada. Neste bloco, então, os alunos praticaram uma série de andanças que começaram em duplas, trios até formarem um só bloco de oito pessoas (contando com as professoras). Foram feitas formas diferentes de andar, até que estabelecemos alguns códigos (que provavelmente serão aproveitados na saída deles, dia 23/02). São eles: apito = andar; bater dos pratos = parar; pratos ao alto = dar meia volta; “pipoca” = todos juntos em bolinho; “linha reta” = todos em fileira.

Deste momento, saiu uma música, adaptação do “marcha, soldado”:

“Marcha, palhaço / Cabeça de papel / Quem não marchar direito / Não vai comer pastel...”.

Ficamos bem satisfeitas com essa quarta aula. Os alunos assimilaram bem as questões trabalhadas e as andanças em grupo funcionaram melhor do que esperávamos, já deixando expectativas para a saída e a aula que vem. Segunda 24.01 o plano é fazer essas mesmas andanças em grupo, com os códigos e as músicas, fora do Xisto. Sair da sala, do Espaço e dar uma volta pelos arredores.

Na avaliação, mais problemas pessoais surgiram. Um deles eu faço questão de compartilhar por aqui pela pérola que saiu de um dos alunos. Indignado com os programas "sensacionalistas"(desses locais que exploram miséria e violência alheia), ele soltou:

“Por que que o Ministério Público não faz nada? Vai atrás de corrida de jegue!”

Quem pode com uma fala dessa?

Minha preocupação do dia foi quanto a justamente o momento da avaliação. Corremos o risco de que o momento final da aula, cujos objetivos eu já explicitei por aqui, vire uma espécie de sessão de terapia de grupo. Se formos nesse caminho, eu me pergunto:

Como acolher as questões trazidas pelos alunos e usar esses depoimentos a favor do processo, sem desvirtuar os objetivos daquele momento?

(no ar...)

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