segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

"É pra se jogar!" (Aula 10/01)

Renata: Vocês sabem o que é pontualidade?

Todos, em coro: Siiiimmm!

Aí vieram as respostas: Pontualidade é um pontinho... É quando você coloca um pontinho...


Só podia ser assim o primeiro dia desta oficina...


Dos seis inscritos (agora sete), só quatro compareceram à aula.

Quinze minutos se passaram do horário de começar e entramos para a sala para uma primeira conversa. Quem somos, onde estamos, o que esperamos, o que faremos...

Pela primeira vez, por sugestão de Renata, eu fiz um pacto com os alunos. Um compromisso da parte deles de cumprir com algumas regras que foram expostas por nós duas, como pontualidade e frequência. Renata, que lia o “Pacto de Palhaço”, perguntou sobre o significado da palavra ‘pontualidade’ e recebeu respostas dignas de um paspalho: resumindo, pontualidade é um pontinho, oras! Risos da parte das mães (que foram convidadas a assistirem este primeiro momento). De mim, um sorriso por dentro e por fora desses de quando a gente olha o mundo e vê a certeza no que está fazendo. “Estamos no lugar certo”, pensei.

Chega de conversa. O grupo levanta e começamos o aquecimento. Mais expectativas da minha parte, mais surpresas com os alunos. Alguns, que eu não fazia idéia de como participariam corporalmente, correram, dançaram e brincaram sem pestanejar. A participação foi grande por parte dos quatro participantes, que compreenderam bem e atenderam com vontade às atividades propostas.

Infelizmente, não deu pra fazer tudo (atrasamos mais e conversamos mais do que o planejado) e a parte reservada às brincadeiras e jogos de liberação foi a mais prejudicada (dos sete exercícios que pensei em fazer, só fiz dois). Estreamos uma espécie de ritual de aquecimento e desaquecimento que será repetido toda aula (também sugestão de Renata). O objetivo é fixar os exercícios, amadurecer a forma com que eles o praticam e possibilitar uma apreensão dessa rotina por parte dos participantes, de forma a alcançarem uma autonomia cada vez maior no trabalho de (des)aquecimento do corpo.

Ao final da aula fizemos uma avaliação do encontro, onde os alunos comentaram em unanimidade sobre o calor. E não há como negar que aquela sala do Espaço Xisto, sem ventilador, sem ar condicionado e abaixo do nível da rua é muito, muito quente. Renata ficou de levar um ventilador da próxima vez... Esperamos que ele dê um jeito nesse desconforto...

Na despedida, a rodada de beijo na mão possibilitou um lindo encontro. Mão com mão, todos, lado a lado. Entre estes estão os dois participantes que possuem um lado do corpo com parcial paralisia dos membros. O que ligava os dois era justamente suas mãos atrofiadas que, sem conseguir se encaixar, repousavam, uma sobre a outra – solução infalível encontrada por eles mesmos. A levantada destes braços de movimento limitado (não dobram, sobem até certo ponto) e a troca de beijo nas mãos pequeninas foi de uma sutileza... Presente destes que a deficiência nos dá... E o palhaço sorri, abraça e acolhe.

Eu, que não sabia o que esperar do grupo, saí de coração feliz. A preocupação que fica é com o número de participantes. Espero ansiosamente que os três inscritos que se ausentaram não deixem de ir na próxima aula... E que – tomara! – consigamos mais algum aluno pra fechar um fusca de 8, 9 ou 10 palhaços!

Quanto aos quatro que foram, estes participaram ativamente, mesmo com seus desafios com movimentação ou fala. O grupo é, por sinal, significativamente menos comprometido do que os grupos com que trabalhei no Pestalozzi. O que poderia ser um suspiro de alívio é também um desafio, porque agora eu me proponho a sistematizar uma proposta metodológica pra um grupo um pouco distinto. Serão novos exercícios, novas formas de abordá-los, novas dificuldades e novas vitórias também.

Tenho mais é que seguir o exemplo do grupo e, como disse um deles (mais de uma vez) na aula:

É pra se jogar!

5 comentários:

  1. Lindo relato. Estou acompanhando atentamente daqui... Cheio de orgulho. E cheio de saudade também. Parabéns pelo início desta que será uma jornada transformadora! Te amo muito.

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  2. "Com certeza".
    Ouvi algumas vezes nesta manhã de um dos alunos muito envolvido. Pude ver seu palhaço repetindo em meio a multidão "com certeza!". Tímidos, conversadores, vaidosos, os quatro trouxeram personalidades muito distintas. Confesso que também me encantei. Muito trabalho minha amiga palhaça! A onda vai crescer e to achando até que 10 é pouco...rss!!!
    Beijo grande!

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  3. Olá Laili

    Que belo trabalho

    fico feliz demais em saber que alguém vem tomando essa iniciativa.

    Desejo muito crescimento, transformação e coração.

    Do seu amigo pexeiro(Itajaiense)
    Charles Augusto

    www.ospalia.blogspot.com

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  4. Mas uma vez parabens pelo lindo trabalho quem sabe vamos fazer uma ofiina para palhaços especiais aqui no Rio de Janeiro.
    Bjkoas pra todos vcs do amigo
    André (palhaço paçoca)

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  5. Cresci achando q palhaco era coisa de circo. Gente q se escondia em um nariz vermelho pra fazer brincadeiras q eu, confesso, mts vezes achava sem graca. Forcada pela maternidade, mergulhei num universo inteiramente novo para mim. Cheio de cores e significados nunca imaginados. Aprendi (e como aprendi) que o palhaco é uma porta para o apreco à diversidade e valorizacão do diferente. O palhaco e, particularmente, o trabalho do palhaco com deficientes intelectuais, me mostrou como reconhecer o outro através do outro, não por lentes cunhadas de pré-julgamento. O palhaco nos faz perceber a beleza no "feio", a liberdade na "limitacão", a grandeza do "pequeno". Parabéns! Mil vezes parabéns por escolherem esse caminho de crescimento e servico. Liese

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