“Alô, gostaria de falar com fulana... Oi, aqui é Laili, a professora da oficina de palhaço no Xisto que beltrano tá inscrito... Estou ligando pra saber se ele vai amanhã, porque nós começamos na segunda-feira e ele não foi, né? Ele disse que vai? Então ótimo. Fala pra ele que estaremos esperando? Obrigada, tchau.”
Nome da operação: “dessa vez nós teremos mais de quatro alunos”.
Estratégias: telefonar para cada casa, falar com a pessoa que assina como responsável pelo participante e perguntar da presença dele.
Avaliação: resultados positivos.
Oito alunos! Viva! A operação foi um sucesso!
Agora sim dá pra fazer um trabalho melhor... Quatro duplas, dois quartetos, uma sala mais preenchida... Só alegria com o tamanho da turma que tivemos nessa segunda-feira.
Ontem a aula foi coberta pela equipe do Soterópolis, que filmou alguns trechos, entrevistou Renata, eu e dois alunos. A presença de uma câmera já havia sido avisada, discutida e autorizada por parte dos alunos e responsáveis. Batemos tanto nessa tecla que quem havia participado desde a semana passada já sabia o discurso de cor: “Não é pra parar pra dar tchau, soltar beijo ou fazer pose. A aula tem que continuar...”
Minhas experiências passadas com câmera em sala de aula não haviam sido muito positivas nesse sentido (era um tal de parar tudo pra prestar atenção na máquina.. mas eu confesso que também nunca discuti taaanto essa questão com os alunos), então ficava a dúvida de como eles reagiriam a uma equipe (foram três pessoas) externa registrando os exercícios. E não é que foram super “profissionais”? Aparentemente não houve qualquer demonstração de timidez ou exibicionismo provocada pela presença da câmera em sala de aula...
Para atender às demandas da reportagem, Renata e eu nos dividimos e, enquanto uma ficava em aula, a outra dava entrevista.
A aula foi tranqüila. O aumento significativo no grupo trouxe respostas imediatas: alguns exercícios repetidos, que já estavam “fáceis”, ficaram mais complicados; outros, mais prazerosos e produtivos.
Estamos amadurecendo a forma de planejar as aulas pra essa turma. É claro que nas primeiras aulas grande parte das atividades tem como objetivo, também, identificar o grupo com o qual estamos trabalhando: quais são as demandas deles, as dificuldades, as possibilidades? Muita coisa funcionou de princípio, mas outras tiveram que ser adaptadas, adiadas, canceladas. Da primeira aula pra terceira, posso afirmar que a tendência foi acertar cada vez mais nos exercícios escolhidos.
Dos exercícios repetidos, pudemos tirar algumas conclusões por agora. O trabalho com ritmo que fizemos ontem pela segunda vez (motivado pela demanda apresentada da turma, ao trabalharmos ritmos de andar) já mostrou uma evolução do grupo. Outro exercício, um de andanças comandadas por apitos (um: pular, dois: tocar no chão...), foi feito pela terceira vez pelo grupo, que ainda demonstrou dificuldade em diferenciar os comandos. A solução que encontramos para uma próxima oportunidade é diferenciar melhor os comandos e assim utilizar não apenas o recurso do apito, mas palmas, gestos e/ou palavras.
Ontem alguns dos alunos apresentaram tontura pela primeira vez. Na tentativa de trabalhar melhor o recurso do abraço, no pega-pega de abraço, planejamos uma sequência de atividades que trabalhassem o toque, até chegar no abraço, no pega-pega de abraço em câmera lenta, para então partir para o jogo na sua “velocidade normal”. O que aconteceu foi que, a tal da “velocidade normal” foi tão esperada que, quando chegou, a turma saiu correndo demais...
Costumamos relaxar o grupo cada vez que muda o pegador: “respira, olha pros colegas”. Dessa vez, contudo, já na primeira pausa me alertaram para seu cansaço e tontura. Tempo, descansar, respirar, sentar, água... A sugestão de um participante, na hora da avaliação do dia, foi inverter a ordem: “bota primeiro o pega-pega, depois faz a câmera lenta”. Boa!
A manhã da segunda-feira terminou especialmente linda... Eu, quando começo esses processos de aula ligando palhaço e deficiência, aviso aos mais próximos duas coisas: 1 – não vou parar de falar disso; 2 – vou chorar um monte. Quem me conhece bem sabe que falar ou chorar não são exatamente difíceis pra mim... Mas enfim... Nesse contexto, fica tudo ainda mais à flor da pele.
No momento final da aula, uma aluna, com toda a generosidade de quem compartilha algo muito íntimo e toda a humildade de quem pede por ajuda, deu um emocionado depoimento sobre questões pessoais suas. A turma foi generosa igual, se mobilizou, opinou, na tentativa de querer ajudar em alguma coisa. Renata, com o coração de palhaça e a cabeça de psicóloga que ela tem, puxou um movimento belíssimo que envolveu o grupo todo no que seria sua "família de palhaços". O pai, a mãe, o tio, o irmão... estavam todos lá, abraçando ela e lhe dando boas-vindas à sua nova família.
Ela, se não ganhou solução pros seus problemas – e isso não seria possível ali, ganhou abraços, carinho, família e até música cantada pra ela.
Eu lutava com os próprios olhos para conter as lágrimas daquele momento...
Que gratidão pela confiança dela em se abrir assim...
Que ingrata a situação de ouvir tanto e não poder fazer muita coisa, falar muita coisa que não alguma tentativa de conforto...
E que gratidão, mais uma vez, por esse grupo que acolheu não só a colega como a idéia de família...
Nas palavras de um participante, em entrevista pro Soterópolis:
“Aqui... aqui é minha casa.”
3 dias, 3 palavras: casa, família e roupa suada.
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PS: Pra não dizer que a crise não continua (mesmo porque palhaço adora crise), a bola da vez é a luta contra o tempo! Tudo corre rápido demais, daqui a pouco tem o dia do bufão, o dia do nariz, o dois de fevereiro que já desistimos de fazer aula, o batizado dos palhaços, a saída e... Já foi?
Estou acompanhando, com lágrimas nos olhos e um sorriso laaargo no coração.
ResponderExcluirDuas lindas talentosíssimas e de bem só poderiam fazer algo assim, verdadeiro, do fundo da alma, cheio de emoção.
Desejar sucesso é pingar no molhado, mas como água e suor nunca são demais: sucesso, meninas!
Iupi iupi iupi!